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Há 5 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Vida sobrenatural  → vida de oração.

Sempre que sentimos no coração desejos de melhorar, de corresponder mais generosamente ao Senhor, e procuramos um roteiro, um norte claro para a nossa existência cristã, o Espírito Santo traz-nos à memória as palavras do Evangelho: Importa orar sempre e não desfalecer. A oração é o fundamento de toda a atividade sobrenatural; com a oração somos onipotentes e, se prescindíssemos desse recurso, nada conseguiríamos.

Quereria que hoje, na nossa meditação, nos persuadíssemos definitivamente da necessidade de nos dispormos a ser almas contemplativas, no meio da rua, do trabalho, mantendo com o nosso Deus um diálogo contínuo, que não deve decair ao longo do dia. Se pretendemos seguir lealmente os passos do Mestre, esse é o único caminho.

E com isso entramos já por caminhos de oração. De que modo prosseguir? Não temos reparado como há tantos - elas e eles - que parecem falar consigo mesmos, escutando-se com complacência? É uma verborréia quase contínua, um monólogo que insiste incansavelmente nos problemas que os preocupam, sem usarem dos meios para resolvê-los, dominados talvez unicamente pela mórbida esperança de que se compadeçam deles ou de que os admirem. Dir-se-ia que não pretendem mais.

Quando queremos de verdade desafogar o coração, se somos francos e simples, procuramos o conselho das pessoas que nos amam, que nos compreendem: conversamos com o pai, com a mãe, com a esposa, com o marido, com o irmão, com o amigo. Isso já é diálogo, ainda que com freqüência não desejemos tanto ouvir quanto espraiar-nos, contando o que se passa conosco. Comecemos a comportar-nos assim com Deus, na certeza de que Ele nos escuta e nos responde; e prestar-lhe-emos atenção, e abriremos a nossa consciência a uma conversa humilde, para lhe relatarmos confiadamente tudo o que nos palpita na cabeça e no coração: alegrias, tristezas, esperanças, dissabores, êxitos, malogros, e até os menores detalhes da nossa jornada. Porque teremos comprovado que tudo o que é nosso interessa ao nosso Pai Celestial.

Para alguns, talvez tudo isto seja familiar; para outros, novo; para todos, árduo. Mas eu, enquanto me restar alento, não cessarei de pregar a necessidade primordial de sermos almas de oração sempre!, em qualquer ocasião e nas circunstâncias mais díspares, porque Deus nunca nos abandona. Não é cristão pensar na amizade divina exclusivamente como um recurso extremo. Pode parecer-nos normal ignorar ou desprezar as pessoas que amamos? É evidente que não. Vão constantemente para os que amamos as palavras, os desejos, os pensamentos: há como que uma presença contínua. Pois bem, com Deus também é assim.

Com esta procura do Senhor, toda a nossa jornada se converte numa única conversação íntima e confiada. Já o afirmei e escrevi muitas vezes, mas não me importo de repeti-lo, porque Nosso Senhor - com o seu exemplo - nos faz ver que esse é o comportamento acertado: oração constante, da manhã até a noite e da noite até a manhã. Quando tudo é fácil: Obrigado, meu Deus! Quando chega um momento difícil: Senhor, não me abandones! E esse Deus, manso e humilde de coração, não esquecerá as nossas súplicas nem permanecerá indiferente, pois Ele afirmou: Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á.

Procuremos, portanto, não perder nunca o “ponto de mira” sobrenatural, vendo Deus por detrás de cada acontecimento: ante as coisas agradáveis e as desagradáveis, ante o consolo… e ante o desconsolo pela morte de um ser amado. Antes de mais nada, a conversa com nosso Pai-Deus, procurando o Senhor no centro da nossa alma. Não é coisa que se possa considerar uma ninharia ou algo de pouca monta: é manifestação clara de vida interior constante, de autêntico diálogo de amor. Uma prática que não produzirá em nós nenhuma deformação psicológica, porque - para um cristão - deve ser tão natural como o bater do coração.

Ao longo destes trinta anos de sacerdócio, tenho insistido tenazmente na necessidade da oração, na possibilidade de converter a existência num clamor incessante. E houve quem me perguntasse: Mas será possível comportar-se sempre assim? Claro que é. Essa união com Nosso Senhor não nos afasta do mundo, não nos transforma em seres estranhos, alheios ao transcorrer dos tempos.

Se Deus nos criou e nos redimiu, se nos ama a ponto de entregar por nós o seu Filho Unigênito, se nos espera - todos os dias! - como o pai da parábola esperava o seu filho pródigo, como não há de desejar que freqüentemos o seu convívio amorosamente? O estranho seria não falar com Deus, afastar-se dEle, esquecê-lo, mergulhar em atividades alheias a esses toques ininterruptos da graça.

Levantar-me-ei e rodearei a cidade; pelas ruas e praças buscarei aquele a quem amo… E não só a cidade; correrei todo o mundo de lés a lés - por todas as nações, por todos os povos, por picadas e atalhos - para alcançar a paz da minha alma. E a descubro nas ocupações diárias, que para mim não são estorvo; que são - pelo contrário - vereda e motivo para amar mais e mais, e mais e mais me unir a Deus.

E quando nos espreita - violenta - a tentação do desânimo, dos contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite na alma, o salmista nos põe nos lábios e na inteligência estas palavras: Com Ele estou no tempo da adversidade. O que vale, Jesus, diante da tua Cruz, a minha; diante das tuas feridas, os meus arranhões? O que vale, diante do teu Amor imenso, puro e infinito, este pesadume de nada que me puseste às costas? E os vossos corações - como o meu - se cumulam de uma santa avidez, confessando-lhe - com obras - que morremos de amor.

Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de compreender as suas lágrimas; de ver o seu sorriso, o seu rosto… Julgo que o melhor modo de exprimi-lo é voltar a repetir com a Escritura: Como o cervo que anseia pelas fontes das águas, assim por Vós anela a minha alma, ó meu Deus! E a alma avança metida em Deus, endeusada: fez-se o cristão viajante sequioso, que abre a boca às águas da fonte.