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Há 7 pontos em "Amigos de Deus", cuja matéria seja Vida sobrenatural  → vida interior .

Abramos o Evangelho de São Mateus, no capítulo vigésimo quinto: O reino dos céus é semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo e da esposa. Mas cinco delas eram néscias e cinco prudentes. O evangelista conta que as prudentes aproveitaram o tempo. Aprovisionam-se discretamente do azeite necessário e estão preparadas quando as avisam: Está na hora! Eis que vem o esposo; saí ao seu encontro: reavivam as suas lâmpadas e apressam-se a recebê-lo com alegria.

Há de chegar também para nós esse dia, que será o último e que não nos causa medo. Confiando firmemente na graça de Deus, estamos dispostos desde este momento, com generosidade, com fortaleza, com amor nos pormenores, a acudir a esse encontro com o Senhor levando as lâmpadas acesas. Porque nos espera a grande festa do Céu. Somos nós, irmãos queridíssimos, quem intervém nas bodas do Verbo. Nós, que já temos fé na Igreja, que nos alimentamos da Sagrada Escritura, que nos sentimos contentes porque a Igreja está unida a Deus. Pensai agora, peço-vos, se viestes a estas bodas com o traje nupcial: examinai atentamente os vossos pensamentos. Eu vos asseguro - e também o asseguro a mim mesmo - que esse traje de cerimônia estará tecido com o amor de Deus que tivermos sabido colher até nas menores tarefas. Porque é próprio dos enamorados cuidar dos detalhes, mesmo nas ações aparentemente sem importância.

Mas retomemos o fio da parábola. E as néscias, que fazem? A partir desse momento, já se empenham em preparar-se para esperar o Esposo: vão comprar o azeite. Mas decidiram-se tarde e, enquanto iam, chegou o esposo;e as que estavam preparadas entraram com ele a celebrar as bodas, e fechou-se a porta. Mais tarde, vieram também as outras virgens, clamando: Senhor, Senhor, abre-nos! Não é que tivessem permanecido inativas, porque tentaram fazer alguma coisa… Mas ouvem a voz que lhes responde com dureza: Não vos conheço. Não souberam ou não quiseram preparar-se com a devida solicitude e esqueceram-se de tomar a razoável precaução de adquirir o azeite a tempo. Faltou-lhes generosidade para cumprir acabadamente o pouco que lhes fora pedido. Tinham tido muitas horas à sua disposição, mas desaproveitaram-nas.

Pensemos na nossa vida com valentia. Por que não conseguimos, às vezes, os minutos de que precisamos para terminar amorosamente o nosso trabalho, que é o meio da nossa santificação? Por que descuramos as obrigações familiares? Por que nos entra a precipitação à hora de rezar ou de assistir ao Santo Sacrifício da Missa? Por que nos faltam a serenidade e a calma para cumprirmos os deveres do nosso estado, e nos entretemos sem pressa nenhuma em ir atrás dos caprichos pessoais? Poderemos responder: são ninharias. Sim, é verdade; mas essas ninharias são o azeite, o nosso azeite, que mantém viva a chama e acesa a luz.

Procuremos que aumente a nossa humildade. Porque só uma fé humilde permite olhar as coisas com perspectiva sobrenatural. Não existe outra alternativa. Só são possíveis dois modos de viver na terra: ou se vive vida sobrenatural, ou vida animal. E tu e eu não podemos viver senão a vida de Deus, a vida sobrenatural. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma? Que aproveita ao homem tudo o que povoa a terra, todas as ambições da inteligência e da vontade? Que vale tudo isso, se tudo acaba, se tudo se afunda, se são bambolinas de teatro todas as riquezas deste mundo terreno, se depois é a eternidade para sempre, para sempre, para sempre?

Este advérbio - sempre - tornou grande Teresa de Jesus. Quando ela - uma criança ainda - saía pela porta que dá para o rio Adaja, atravessando as muralhas da cidade acompanhada pelo seu irmão Rodrigo, com a intenção de irem a terra de mouros para lá serem decapitados por amor de Cristo, ia sussurrando ao irmão que dava mostras de cansaço: Para sempre, para sempre, para sempre.

Mentem os homens, quando dizem “para sempre” em coisas temporais. Só é verdade, com uma verdade total, o “para sempre” referido a Deus. E assim deves tu viver, com uma fé que te ajude a sentir sabores de mel, doçuras de céu, ao pensares na eternidade, que é, de verdade, para sempre.

Há mil maneiras de orar, digo-vos novamente. Os filhos de Deus não necessitam de um método, quadriculado e artificial, para se dirigirem a seu Pai. O amor é criativo, engenhoso; se amamos, saberemos descobrir caminhos pessoais, íntimos, que nos conduzam a esse diálogo contínuo com o Senhor.

Queira Deus que tudo o que hoje contemplamos não passe por cima da nossa alma como uma tormenta de verão: quatro gotas, depois o sol, e a seca de novo. Esta água de Deus tem de remansar-se, tem de chegar às raízes e dar fruto de virtudes. Assim irão transcorrendo os nossos anos - dias de trabalho e de oração -, na presença do Pai. Se fraquejarmos, acudiremos ao amor de Santa Maria, Mestra de oração; e a São José, nosso Pai e Senhor, a quem tanto veneramos, que foi quem neste mundo mais conviveu com a Mãe de Deus e - depois de Santa Maria - com o seu Filho Divino. E eles apresentarão a nossa fraqueza a Jesus, para que a converta em fortaleza.

Eu vos livrarei do cativeiro, estejais onde estiverdes. Livramo-nos da escravidão pela oração: sabemo-nos livres, voando num epitalâmio de alma apaixonada, num cântico de amor, que nos impele a não desejar afastar-nos de Deus. Um novo modo de andar na terra, um modo divino, sobrenatural, maravilhoso. Recordando tantos escritores castelhanos quinhentistas, talvez nos agrade saborear isto por nossa conta: Vivo porque não vivo; é Cristo que vive em mim!*

Aceita-se com gosto a necessidade de trabalhar neste mundo durante muitos anos, porque Jesus tem poucos amigos cá em baixo. Não recusemos a obrigação de viver, de gastar-nos - bem espremidos - a serviço de Deus e da Igreja. Desta maneira, em liberdade: in libertatem gloriae filiorum Dei, qua libertate Christusnos liberavit; com a liberdade dos filhos de Deus, que Jesus Cristo nos conquistou morrendo sobre o madeiro da Cruz.

(*) Alusão, entre outras, ao poema de Santa Teresa: Vivo sin vivir en mí (N. do T.)

Corremos como o cervo, que anseia pelas fontes das águas; com sede, gretada a boca, ressequida. Queremos beber nesse manancial de água viva. Sem esquisitices, mergulhamos ao longo do dia nesse veio abundante e cristalino de frescas linfas que saltam até a vida eterna. Sobram as palavras, porque a língua não consegue expressar-se; começa a serenar-se a inteligência. Não se raciocina, fita-se! E a alma rompe outra vez a cantar com um cântico novo, porque se sente e se sabe também fitada amorosamente por Deus, em todos os momentos.

Não me refiro a situações extraordinárias. São, podem muito bem ser fenômenos ordinários da nossa alma: uma loucura de amor que, sem espetáculo, sem extravagâncias, nos ensina a sofrer e a viver, porque Deus nos concede a sabedoria. Que serenidade, que paz então, metidos na senda estreita que conduz à vida!

Ascética? Mística? Não me preocupo com isso. Seja o que for, ascética ou mística, que importa? É mercê de Deus. Se tu procuras meditar, o Senhor não te negará a sua assistência. Fé e obras de fé: obras, porque - já o verificaste desde o início e já o frisei a seu tempo - o Senhor é cada dia mais exigente. Isto é já contemplação e é união; é assim que deve ser a vida de muitos cristãos, avançando cada um pela sua própria via espiritual - são infinitas -, no meio dos afãs do mundo, ainda que nem sequer se aperceba disso.

Uma oração e uma conduta que não nos afastam das nossas atividades habituais e que, no meio dessas aspirações nobremente terrenas, nos conduzem ao Senhor. Elevando todos os afazeres a Deus, a criatura diviniza o mundo. Quantas vezes não tenho falado do mito do rei Midas, que convertia em ouro tudo o que tocava! Podemos converter tudo o que tocamos em ouro de méritos sobrenaturais, apesar dos nossos erros pessoais.

Referências da Sagrada Escritura
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